domingo, 8 de março de 2009

Sentir tudo de todas as maneiras

"Deixar a vida acontecer sem lhe dar um nome..."

Foi assim que um dia um grupo de jovens decidiu fazer, com o objectivo de tentar sentir tudo de todas as maneiras, e de ajudar os outros a sentí-lo também.

O caminho foi longo, e não sem altos e baixos.
Começou-se com ideias e pequenas experiências, que foram trazendo mais ideias a juntar à extensa lista.
Nadou-se por uma vastidão de possibilidades, mas aos poucos algo se começou a delinear com maior precisão.
A época das ideias soltas dava lugar à decisão pelo realizável.
Sem se dar conta, foi-se construíndo qualquer coisa...uma peça; um espectáculo; uma experiência? Não sei bem o que foi, mas ela nasceu, ofegante, de uma "vagina InterDita", e com ela nasceram as dores físicas, psicológicas, e emocionais.

Os que assistiram falam:
Daquela que falava russo-japonês
Daqueles que pareciam máquinas
Do outro que se passava no meio deles
Do "coração, se pudesse pensar, pararia..."
Do “quem sou quando sinto? que coisa morro quando sou?”
Da vendas, e da corda
Do balanço entre corpos ao som humano de melodias de embalar
Do didgeridoo no silêncio da escuridão
Dos segredos sussurados ao ouvido
Do "gosto muito de ti mas nunca te disse"
Do "às vezes tenho vontade de desistir"
Dos odores (des)agradáveis
Das correrias
Do cair, e do levantar
Do "estou vivo"
Da "felicidade"
Do "quanto nos custa ser uma curva normal"
Do "se eu gostar muito de ti será incesto desejar-te"
Das obsessões, e dos histrionismos
Das alucinações sensoriais
Do fugir janela fora
Da Alma e o do Eu
Das sombras
Do "olho-te e amo-te e não te possuo nunca"
Da psicologia experimental
Do vulto ao fundo do corredor
Do "conhecer todas as coisas devagarinho, muito devagarinho"
Do outro que se volta a passar na luz intermitente
Do "como todos os meus sentidos têm cio de vós"
Dos tambores
Do "ruge", "relâmpago", "sacode", "espuma", "rompe","quebra", "ócio", "alucinação", "dinamismo"
Dos movimentos aparentemente descoordenados
Do "gosto de um deus que saiba dançar"
Da agitação
Do cair, e do levantar de novo
Daqueles dois que se mexiam de forma estranha
Do caos
Da aglomeração
E, por fim...da explosão

Os que assistiram dizem que mais que assitir, sentiram, tudo, de todas as maneiras.

Eu digo também que senti, tudo, de todas as maneiras. Não apenas naqueles três dias de "estreias", mas durante os meses, semanas, e dias que os antecederam.
Senti, tudo, de todas as maneiras, até ao último suspiro de alívio, por ter terminado, e por ter ultrapassado as expectativas dos outros...e as minhas também.

Mas depois do estado bomba-relógio, e da sua explosão...sente-se a falta o tique-taque incessante...

Porque... "Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir. Sentir tudo de todas as maneiras".

3 comentários:

puquenina disse...

adorei o post...

recordar um momento marcante, com frases marcantes, com representações marcantes, com sotaques marcantes, com energias marcantes. um trabalho marcante

Es grande, sois grandes, assim continuem

Alison Antunes disse...

sofia! só agora li este post. e ainda bem. fez-me andar uns meses para trás. parece-me até que ao ler, voltei a sentir o nervosismo da ante-estreia...


sabes?ainda bem que acabei por não desistir.
valeu a pena!Mesmo!

Xyco disse...

...Do que me sussurraste ao ouvido
...De uma grande peça com pequenos-grandes actores

(excepto o João, q é bem alto!=P)